17 de agosto de 2010

Susana Barbosa: a diaba boa da moda!


Se para você o perfil de quem trabalha com moda é ter entre suas características arrogância, prepotência e falta de educação, então, pode começar a rever seus conceitos. A renomada editora de moda da revista ELLE, Susana Barbosa, deu uma entrevista para o Seja Phyna e provou que não é uma persona típica do mundo fashion atual, onde carão, grosseria e ego exaltado se sobressaem a qualquer tipo de profissionalismo. A mineira, de 38 anos, comprovou (que delícia!) que para ter sucesso no mundo da moda não basta ter rosto bonito, closet recheado de grifes, pai endinheirado e uma rede social de gente bem-nascida. Para chegar ao topo, é preciso suar a camisa, estudar muito e ter os pés bem no chão, mon amour!

Exigente, crítica, perfeccionista e louca por um olhar diferenciado diante daquilo que já foi visto e revisto nas passarelas e nas vitrines mundo afora, Susana é uma diaba, mas das boas, que não brinca um minuto sequer em serviço. E isso a gente vê todo mês na melhor revista de moda do país.


FORMAÇÃO
Fiz o curso de Publicidade e Propaganda, no Rio de Janeiro. Depois, assim que cheguei a São Paulo fiz um curso de produção de moda, na Faap.

PELO MUNDO
Já Fui à Suíça, França, EUA, Argentina, Chile. Conheço poucos lugares do mundo. Viajei bastante, mas costumava ir sempre para os mesmos lugares. Adoro viajar e ainda preciso fazer o roteiro básico. Não conheço a Itália, Espanha, Inglaterra... Eu amei Paris, mas tenho que confessar que adoro os EUA, especialmente NY. Moraria facilmente lá. Também morro de curiosidade sobre a Dinamarca.


FAMÍLIA FASHIONISTA
Não tenho nenhum parente que trabalha com moda. Na minha família, as pessoas nem sabem o que isso significa direito!

TRABALHAR COM MODA
Eu sempre gostei de moda mas não imaginava que isso pudesse ser uma profissão, até porque na minha casa todos têm profissões convencionais: médico, dentista e engenheiro. E quando eu comecei, há 15 anos, a "moda" era fazer publicidade. Como eu não sabia direito o que queria da vida, prestei vestibular para Publicidade e Propaganda e passei. Eu só sabia que gostava de coisas criativas, mas não tinha ideia de como aplicar isso na vida prática. Mas digamos que o gene fashion eu já tinha desde sempre. Fazia roupas para bonecas, maquiava as amigas, desenhava minhas próprias roupas, etc. Tudo que uma menina vaidosa gosta de fazer!



COMO CHEGOU À ELLE
Eu comecei na revista Manequim. Foi meu primeiro emprego. A redação ficava ao lado da porta da redação da ELLE. Eu já adorava a revista. Naquele tempo escrevi uma carta para uma amiga que mora nos EUA contando do emprego novo e dizendo: "quem sabe um dia eu não mudo de porta". Por outro lado, não me empenhei muito pra isso. Era muito tímida, medrosa, bicho do mato. Estava chegando em SP e não conhecia nada de nada. Não sabia nem virar a esquina. A Alaíde Navarro, produtora da Manequim, me ensinava até o que eu devia falar quando ligasse para as pessoas. Ela era uma mãe pra mim. E eu, crua de tudo! Na verdade, teria virado suco na mão da Regina Guerreiro, diretora da Elle naquela época! (rs). Três anos depois, saí da Manequim e resolvi ir estudar inglês nos EUA. Quando voltei, a Jussara Romão me chamou para a ELLE. Ela tinha acabado de assumir a editoria de moda e eu fui correndo ser sua assistente. Então foi meio por acaso, por sorte, sei lá! Eu não conhecia a Jussara direito. Acho que ela me observava e gostava de mim, achava que eu levava jeito pra coisa. Quando cheguei lá, me esforcei muito e trabalhei duro para ficar. E lá estou, há 10 anos.


ANTES DE SER EDITORA DE MODA
Fui produtora de moda antes de tudo.. Na Editora Abril somos contratados como repórter. Então posso dizer que fui repórter zero, 1, 2, 3, 4, 5 até me tornar editora-assistente. Um longo caminho eu precisei percorrer até virar editora. E acho que foi bom!

DIFICULDADES NO MEIO DO CAMINHO
Hoje considero que as maiores dificuldades foram eu mesma quem criei. Tenho uma chefe interna que é muito exigente comigo mesma. Eu sempre me questiono, cobro, acho que tudo tem que sair perfeito, portanto estou sempre colocando em dúvida meu talento, minha capacidade, sou uma chata comigo mesma! Mas posso dizer que como comecei numa revista popular, à qual as pessoas do mercado não davam muito valor, foi tudo muito suado. Na época tudo era difícil. Ninguém queria me emprestar roupa porque saía o molde na revista e as pessoas não gostavam. E todo mundo só queria sair na ELLE. As melhores modelos não queriam posar, os melhores fotógrafos também não. Tudo isso dificultava muito o trabalho mas por outro lado nos obrigava a fazer bem feito com os recursos que tínhamos.


A CONQUISTA DO RECONHECIMENTO
Já levei muito não, já fui muito destratada e esnobada. Mas sempre fui verdadeira e consegui as coisas pelo meu esforço. Nunca precisei bajular ninguém, sempre joguei limpo com todos. Enfiava meu orgulho no saco e seguia em frente.Acho que isso se tornou uma virtude. Sempre fui a mesma, desde o dia que comecei. Hoje sou apenas muito mais ocupada.

DESISTIR
Eu penso todos os dias, mas a paixão fala mais alto.

BLOGS DE CONSUMO X BANALIZAÇÃO DA PROFISSÃO
Eu também sou uma grande crítica dessa moçada que já começa achando que sabe tudo. Você falou a verdade: "meninas que falam de moda como consumo". Adorei isso. Acho que os "blogs" são os grandes responsáveis por isso também. Hoje, qualquer "patricinha" tem um blog para exibir seus looks e seu gosto para uma comunidade de garotas absolutamente iguais a elas. E essas meninas, porque têm uma vasta rede social, têm muita visibilidade e rapidamente ganham voz ativa. Sou contra, radicalmente contra. Mas o tempo diz tudo. Nesses 15 anos de estrada já vi muita gente chegar e sair. No fim das contas, o que te faz durar é o talento mesmo. Só ficam os bons.

SUCESSO PELO TER E NÃO PELO SABER
Por isso sempre digo que é preciso desconfiar. Desconfie sempre. Eu não me importo porque não dou à mínima para essas pessoas. Elas, para mim, não têm a menor relevância e credibilidade. Me concentro no meu trabalho e pronto!


FÓRMULA DO SUCESSO
Em primeiro lugar eu acredito no trabalho. Depois na persistência, porque não é um negócio fácil. E depois eu acho que é preciso ter foco, responsabilidade, organização, talento. No fim das contas, são características que caberiam em qualquer profissão. Isso não muda.

REFERÊNCIA EM JORNALISMO DE MODA
Eu admiro jornalistas que escrevem bem, em primeiro lugar. A maior de todas foi e ainda é a Regina Guerreiro. Acho que, visualmente, ela "caducou". As últimas modas produzidas por ela que vi achei muito ruins. Mas suas ideias continuam muito vivas. Ela é muito inteligente, culta, precisa. E é meio politicamente incorreta. Eu gosto de gente assim.

INSPIRAÇÃO NA VIDA
Não penso muito sobre isso. Estou sempre de olhos bem abertos, atenta a tudo que acontece ao meu redor. Sempre admirei os trabalhos de alguns profissionais como a Flavia Pommianosky e o Davi Ramos, o Paulo Martinez, a Flavia Lafer. Eu queria que o meu trabalho um dia estivesse à altura do deles. E venho me empenhando para isso todos esses anos. Nesse sentido sou incansável e ainda acho que tenho muito que aprender. Acho que o Paulo é a nossa Grace Coddington (diretora criativa da Vogue América), tem essa coisa de contar uma história através das imagens. Isso eu não aprendi ainda a fazer, então fico observando, tentando um dia chegar lá. Sempre quero melhorar onde tenho falhas. Gostaria de ter um ícone, um guru, uma entidade em quem me apoiar, mas não tenho.

IRRITAÇÃO PROFUNDA
Incompetência. Num primeiro momento ela é perdoável, mas depois de um tempo não tolero. E injustiça. Sinto revolta quando sou injustiçada e quando vejo alguma injustiça.

FALTA DE EDUCAÇÃO
Acho assustador. Me preocupa a falta de civilidade. Mas não revido. Sempre prefiro manter a calma. Tenho alma de budista.


OBJETIVO - SONHO - DESTINO
Adoraria ter esse objetivo. Nunca tive muito claro na minha cabeça onde eu queria chegar e isso não é bom. Dificulta e atrasa muito as coisas. E, ainda hoje, esse continua sendo meu maior questionamento.

BATE-BOLA
Livro - Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, da Clarice Lispector.
Música - The goldberg variations, de Bach, com o pianista Glenn Gould.
Filme - Noites de Cabíria, do Fellini.
Perfume - Ainda não encontrei o meu perfume definitivo. Uso o Stella, da Stella McCartney.
Sonho - Passar a vida viajando. Mas é só no plano da fantasia mesmo, porque se fosse verdade seria muito chato. Já imaginou ter que viver fazendo e desfazendo mala?
Luxo é - no momento, dormir seria um luxo.
Felicidade - ter as pessoas que amo sempre comigo.
Personalidade - Serge Gainsbourg
Ser elegante é - ser discreta
Ícone Fashion - Jane Birkin
Ser Phyna é - ser educada

*Fotos: Abril, Amaury Jr., ELLE, SPFW

1 comentários:

Bru Abecia on 14 de setembro de 2010 às 12:27 disse...

É muito bom ver que o perfil das pessoas que atuam na área de moda esteja mudando. Sempre tive muito interesse em trabalhar com moda, mas não sei em qual área posso me inserir...
Mas adorei a reportagem pois também estou me formando em publicidade e me identifiquei muito com a Susana!

ótimo blog!
bjs

 

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